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Derrubando Muros Físicos e Simbólicos para Ressignificar a Educação

Por Que Investimos: Cidade Escola Aprendiz
Nathalie Zogbi
Principal (Representative)
Ronaldo Vitor da Silva
Contributing Author

Nossa equipe fez uma visita a Heliópolis, bairro localizado na periferia de São Paulo e que abriga a Escola Municipal de Ensino Fundamental Campos Salles. Com um ambiente escolar modelo, apoiado por nossa parceira Cidade Escola Aprendiz, a visita à escola nos ensinou como estudantes e comunidades podem se desenvolver e ser capacitados através da educação. Aqui o que vimos e aprendemos:

Localizado na região sudeste de São Paulo, o bairro de Heliópolis ocupa uma área de aproximadamente um milhão de metros quadrados e conta com mais de duzentos mil habitantes. Maior favela de São Paulo, a região nasceu na década de 1970, quando a prefeitura paulista removeu famílias de um bairro vizinho (Vila Prudente) para alocá-las em alojamentos provisórios próximos ao Hospital Heliópolis.

Desde seu nascimento, a história de Heliópolis se liga com questões centrais da vida nas periferias das grandes cidades brasileiras. Os alojamentos que eram temporários tornaram-se definitivos, imigrantes e trabalhadores pobres se mudaram para a favela, houve grande crescimento demográfico e falta planejamento urbano para a comunidade. Nesse contexto, moradores, trabalhadores e a comunidade se organizaram para reivindicar direitos à moradia, saúde, educação e segurança.

Esta articulação em defesa da comunidade fez de Heliópolis uma região com grande envolvimento político, sobretudo através de organizações sociais. Junto disso, os moradores também perceberam a importância da educação para o desenvolvimento humano e comunitário. Preocupados com o futuro, eles deram um mote para seu envolvimento: Heliópolis, bairro educador.

Ensinar e aprender, portanto, foram os meios que a maior favela de São Paulo encontrou para melhorar a qualidade de vida frente às desigualdades que a afetavam. Os desafios políticos vividos desde a década de 1970 encontraram na educação uma maneira de engajar as pessoas em suas potencialidades, promovendo a cidadania e os direitos. De acordo com a UNAS (União de Núcleos, Associações dos Moradores de Heliópolis e Região), essa visão mostra que tudo passa pela educação e que a escola é um centro de liderança na comunidade em que está inserida.

A mais conhecida escola de Heliópolis é a Escola Municipal de Ensino Fundamental Presidente Campos Salles (EMEF Campos Salles). A instituição tem uma sólida trajetória de promoção da cidadania e justiça social, além de envolvimento com os movimentos sociais de seu entorno. Dirigida durante muitos anos por Braz Rodrigues Nogueira, uma das lideranças políticas locais, a instituição aposta em um tipo de relação que fortalece o diálogo entre estudantes e professores. “É uma escola humana em que o aluno vai sentir e aprender com o adulto. E o adulto vai aprender com o aluno”, afirma o diretor recém-aposentado.

Braz assumiu a direção da EMEF Campos Salles em 1996, inspirando-se na pedagogia de Paulo Freire e na Escola da Ponte (Portugal) para reformular todo seu projeto pedagógico. O objetivo da ação era aproximar o cotidiano dos estudantes com a comunidade, valorizando a autonomia, responsabilidade e liderança. Em sintonia com a história de Heliópolis, Braz sempre acreditou que a escola é um ponto crucial para fortalecer o bairro educador que a abriga.

Esta nova concepção de educação vinha do desejo de promover paz e valores democráticos numa região afetada por altos índices de violência. O diretor entendia que a escola deveria formar cidadãos capazes de reconhecer seus direitos e pleitear melhores condições de vida, valorizando a autonomia e indo além do ensino de conteúdos tradicionais. A EMEF Campos Salles também deveria ser um centro de referência para o futuro da região.

Em busca desse propósito, o diretor fomentou comissões de estudantes que propunham alternativas para problemas locais, criou espaços de interação que simulavam esferas de políticas governamentais, valorizou o poder do grêmio estudantil e sua capacidade de articulação com os estudantes, ampliando a participação dos mesmos nas decisões escolares. Além disso, também reformulou a arquitetura do prédio, derrubando paredes que separavam salas de aula e os muros que demarcavam o bairro e o ambiente escolar.

Hoje, a escola é referência dentro de seu bairro e também nos amplos debates sobre educação na esfera nacional, tornando-se tema de pesquisas universitárias, reportagens e modelo para inúmeras outras escolas e projetos sociais do país.

Esta nova concepção de educação vinha do desejo de promover paz e valores democráticos numa região afetada por altos índices de violência. O diretor entendia que a escola deveria formar cidadãos capazes de reconhecer seus direitos e pleitear melhores condições de vida, valorizando a autonomia e indo além do ensino de conteúdos tradicionais.

Nossa parceria com a Cidade Escola Aprendiz

Um princípio da estratégia de investimento da Imaginable Futures no Brasil é olhar para oportunidades em que as comunidades possam assumir responsabilidades coletivas por uma educação pública de qualidade. Foi isso o que vimos quando visitamos a EMEF Campos Salles: a escola demonstrou como muros físicos e simbólicos podem ser "derrubados" para criarem mudanças na educação. Além disso, também aprendemos como os líderes escolares e os professores precisam integrar uma visão coletiva em torno desse projeto, um aviso que frequentemente escutamos ao nos envolvermos com as comunidades na construção de estratégias de investimento locais.

Foram estes aprendizados que nos levaram a firmar parcerias com a Cidade Escola Aprendiz (Aprendiz), organização que há 25 anos contribui para o desenvolvimento de sujeitos e suas comunidades, por meio da promoção de experiências e políticas públicas orientadas por uma perspectiva integral da educação. Através de sua iniciativa “educação e território”, a Cidade Escola Aprendiz é uma parceira de longa data da EMEF Campos Salles, buscando integrar comunidades, serviços/instituições públicas e escolas que favoreçam "territórios de aprendizagem" e promovam o desenvolvimento integral para crianças, jovens e membros da comunidade ao redor.

Estamos entusiasmados com a parceria com a Aprendiz, pois ela permite aumentar a amplitude e o impacto de nosso trabalho, nos aproximando de projetos e experiências de aprendizagem brasileiras, como ocorre na EMEF Campos Salles. Conhecer melhor essa escola trouxe lições importantes para nossos investimentos futuros, já que a EMEF mostra como capacitar uma comunidade para entender seus direitos e seu poder coletivo, leva a mudanças reais na vida das pessoas. Em um documentário chamado Heliópolis, bairro educador, gravado pela UNAS Heliópolis em parceria com a Prefeitura de São Paulo, um morador da região resume: “Heliópolis é uma cidade educadora a caminho da paz”. São palavras potentes que inspiram para o futuro do Brasil e de seus estudantes.

Foi isso o que vimos quando visitamos a EMEF Campos Salles: a escola demonstrou como muros físicos e simbólicos podem ser "derrubados" para criarem mudanças na educação. Além disso, também aprendemos como os líderes escolares e os professores precisam integrar uma visão coletiva em torno desse projeto, um aviso que frequentemente escutamos ao nos envolvermos com as comunidades na construção de estratégias de investimento locais.